08/04/2020
Atualizada: 10/04/2020 14:57:14


Em decorrência da suspensão das atividades das Organizações de Ensino Superior públicas, tomamos, enquanto gestores, decisões históricas nesse momento de exceção porque passam os países e nosso Brasil. Em nome da defesa da vida, suspendemos calendários, estabelecemos o trabalho remoto e fizemos de nosso lugar de ofício (de administrador) uma trincheira para defender não somente a incolumidade de estudantes, técnicos, professores e gestores, mas as próprias vidas dos familiares dessas pessoas, sejam eles do grupo de risco (maiores de 60, gestantes/lactantes ou pessoas com doenças pré-existentes) ou não.

Estabeleceu-se então um cenário altamente complexo, e até então desconhecido para nós que sentamos na cadeira de gestor, acostumados a decisões relativas aos processos cotidianos de gestão - o planejamento, a gestão de pessoas, o fluxo de documentos, dentre outro - nos sendo cobrado ponderar sobre a suspensão (longa) das atividades desenvolvidas no seio de nossas unidades de ensino. Foi um processo rápido, forte, desafiador, experiência que ficará encrustada em nossas passagens como coordenadores, diretores, pró-reitores, assim como a do próprio Reitor.

Nesse sentido, importante compreender que se confirmou aquilo estabelecido nos manuais de gestão educacional: na gestão não é suficiente decidirmos somente a partir de referenciais técnicos, mas dos políticos (aqueles que nos dão variáveis como a Legitimidade – fundamento principal na complexa teia de relações estabelecidas numa organização complexa, como a Universidade), sob o risco de construirmos não apenas um ambiente de contágio, que quando se extinguisse traria não somente consequências dolorosas como morte e baixas de saúde, mas que em nosso caso, analisando os processos de gestão, traria um alto grau de instabilidade interna, derivando, por exemplo, numa caça a culpados e vítimas, que tende a imobilizar o fazer do gestor e, em última instância, dificulta nossa missão como Instituição primordial na sociedade de se estabelecer como referência para a comunidade alagoana.

Acreditamos que nossas decisões no interno da UFAL têm sido sóbrias e acertadas, ainda que pressionada por forças do ambiente externo à própria Universidade que promove pressões para alternativas arranjadas e de baixa efetividade de aprendizado, claramente balizadas por fatores contrárias aos propósitos de uma educação de qualidade e emancipadora. São sugestões esdrúxulas, a exemplo do retorno imediato às aulas ou o uso de Educação a Distância totalmente fora de seus balizamentos científicos e tradicionais apontando horizontes diametralmente contrários ao das organizações de saúde coletiva aponta. Afora tudo isso, uma multiplicação legislativa, de órgãos federais que não dialogam entre si, trazendo insegurança na sua aplicação na base da universidade: a Unidade Acadêmica.  Desse modo, é preciso fortalecer a centralização na decisão (evitando a proliferação de orientações conflitantes) baseada em parâmetros científicos (e isso temos de sobra, pois somos um privilegiado espaço de produção de saberes) e clareza na comunicação, formalizando toda e qualquer ordem ou orientação oriunda da gestão, seguida de uma eficiente publicação das mesmas em espaços que cheguem veloz e qualitativamente aos membros de nossa comunidade.

É preciso estar atento à nossa prioridade: as pessoas. Nossa identidade como organização se baseia no aspecto formativo. Desse modo, fazer gestão aqui, diferente de outras organizações tradicionais como as comerciais, as industriais, as financeiras, ou mesmo aquelas de segurança (ou ainda religiosas), deve ser orientada para o fato de que administrar é um ato pedagógico que está, em última instância, a serviço de uma proposta/da atividade pedagógica clara e comprometida na formação de sujeitos ativos, numa sociedade que necessita de nossa intervenção e mudança para descontruir a violência, a exclusão, a morte.

Ser gestor educacional nesse momento é fazer, e aprender a fazer, pelo coletivo. Pela defesa de direitos dos membros da comunidade universitária. Direitos materiais de subsistência, mas também os relativos aos aspectos psicológicos, de saúde mental, para que quando passe esse período possamos, com a participação da gestão – aquela que provém os meios no trabalho escolar (soma da atividade pedagógica e da atividade administrativa) – promover uma grande celebração da vida em comunidade.  A gestão não está parada, ela está preparando nossa volta para que, para além de sua eficiência e eficácia, possamos comemorar a alegria de sermos membros vivos da Universidade Federal de Alagoas. 

Fonte: Prof. Dr. Jorge Eduardo - Centro de Educação da UFAL

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