10/06/2020
Atualizada: 10/06/2020 08:46:44


Há três princípios que são de alguma forma correlacionados entre si. São eles, respectivamente: 1) o princípio da empatia; 2) o princípio da alteridade e; 3) o princípio da compaixão.

No que concerne ao primeiro, podemos simplesmente pensar na acepção segundo a qual há uma identidade natural e humana entre mim e o outro e que devo levar em conta essa identidade.

No que se refere ao segundo, podemos interpretar, a partir do termo alter (o outro), que além de mim, também existe o outro e que devo, por princípio, aceitar essa diferença, conviver com a mesma e se possível cultivá-la no bom sentido dessa própria e benéfica alteridade, desde que essa seja pautada pela tolerância, a mais ampla possível, menos a de ser tolerante com a intolerância.

No que concerne ao terceiro, podemos dizer que a paixão, que é uma das 10 categorias de Aristóteles, e que é uma ação sofrida por alguém, não nos deve deixar indiferentes. Em outras palavras, o que atinge o outro deve nos comover e deve nos sensibilizar, ou ainda, o que atinge o outro, principalmente se for uma ação violenta da qual o violentado a receba passivamente (daí o termo paixão), deve necessariamente nos atingir, daí o termo compaixão, ou seja, nós compartilhamos do sofrimento do outro.

O fascista não respeita nenhum dos três princípios acima.

Quanto ao primeiro, o fascista não sente nenhuma identidade com quem quer que esteja fora de seu círculo de fanáticos e quem quer que esteja fora desse círculo deve ser simplesmente eliminado.

Quanto ao segundo, toda diferença e toda alteridade convertem-se em maldição e por isso quem seja diferente deve ser anatematizado e destruído.

Quanto ao terceiro, o fascista considera, em linha de princípio, que não há nenhuma compaixão possível com quem seja diferente dele e os campos de concentração são exemplos emblemáticos extremos da falta de compaixão.

Além disso, o fascista não pode adotar nem a Democracia nem a República, e essa impossibilidade se dá mesmo por princípio. O fascista não pode ser democrático pois ao negar a empatia, a alteridade e a compaixão, torna-se inapto para a convivência com aqueles que lhes são diferentes e assim ele não se encontra apto para a convivência democrática. Também não pode ser republicano pois a república requer necessariamente o compartilhamento para todos e todas da coisa pública que não é de ninguém em particular, mas é de todos os seus constituintes, cidadãos e cidadãs.

Como exemplo emblemático e atual, podemos trazer à baila o caso da morte de George Floyd, homem negro que na cidade de Minneapolis, após ter sido algemado e virado contra o chão, sofreu a ação de um policial branco ajoelhado em seu pescoço e manifestando-se escandalosamente indiferente aos apelos reiterados do agredido de que não estava conseguindo respirar. Tal policial violou os princípios da empatia, da alteridade e da compaixão e por isso, não teríamos meias palavras para classificá-lo como fascista a pleno título.

O fascismo, incluindo o racismo institucional que é um de seus aspectos mais deletérios e desumanos, foi de tal monta que essa hediondez foi inicialmente classificada como crime culposo, quando, sem a menor sombra de dúvida, tratou-se de um crime doloso dotado de alta insensibilidade e grande perversidade. Tudo foi agravado pelo fato de seus colegas policiais tivessem se omitido de intervir a fim de que pudessem impedir o troglodita de perpetrar tamanha insensatez.

No Brasil como nos EUA as balas "perdidas" encontram mais negros e pobres do que quaisquer outros grupos e classes de pessoas. O fascismo em geral, incluindo uma de suas formas mais abjetas que é o racismo, deve ser objeto de indignação como mostram as manifestações que são justas e importantes reações nos EUA e em outras partes do mundo, que envolvem pessoas progressistas, sejam elas de quaisquer etnias, apenas comprometidas com a humanização e o combate às violências de quaisquer formas que sejam. As palavras de ordem "Black lives matter" (Vidas negras importam) e "No Justice, no Peace" (Sem Justiça não há Paz) resumem muito bem a dolorosa situação.

Infelizmente, o fascismo cresce no Brasil e devemos lutar decididamente contra ele dentro dos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito e do respeito intransigente e incondicional à nossa Constituição Federal. O fascismo não é apenas eticamente deletério; ele o é epistemologicamente deletério também. Por isso, os fascistas odeiam a ciência, pois o apanágio do pensamento científico constitui-se na crítica e a discussão crítica está entre as coisas que os fascistas mais odeiam; por razões similares, também a educação é permanentemente odiada por eles.

Os fascistas não têm nenhum compromisso com a verdade e por isso alguns deles são completamente indiferentes à forma da Terra, se plana ou esférica; esses não se importam, por sua imensa ignorância, que se a Terra fosse plana, jamais seria possível a Revolução Científica do século XVII; esses mesmos fascistas são tão atrasados e ignorantes que estão aquém da própria concepção geocêntrica a qual já há muito tempo admite a esfericidade da Terra. Como não se utilizam da crítica, quaisquer prescrições e vociferações de seus ignorantes chefes sobre a saúde pública são dogmaticamente obedecidas e rigorosamente seguidas tal como recomendaria Mussolini.

Os fascistas não tem compromisso nenhum com o que seja verdade também quando, dolosamente e/ou ignorantemente, e numa interpretação enganosa do que seja liberdade de cátedra e do que seja liberdade de opinião, argumentam -pasmem vocês!!!- que a utilização de fakenews faz parte de sua "liberdade de expressão". Nada mais falso e hediondo. As fakenews são, definitivamente, intolerâncias gravíssimas na medida em que são mentiras que comprometem a convivência democrática e o bem público.

Por isso, e por muito mais, devemos combater o fascismo em todas as suas formas.

 

Fonte: Jenner Barretto Bastos Filho - Professor Titular do Instituto de Física da Universidade Federal de Alagoas

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