Fundo de pensão dos Correios perde com aplicação em grupo de Eike Batista

De acordo com a Folha de S. Paulo, desde abril estão sendo descontados dos salários dos funcionários dos Correios o equivalente a 3,94% do valor do benefício que terão direito ao se aposentarem. O Postalis é o 14º maior fundo de pensão do Brasil, com patrimônio de R$ 7,68 bilhões, e é o terceiro em número de participantes, com 130 mil pessoas, ainda segundo a reportagem.

Do déficit total, segundo a Folha, R$ 287 milhões são de origem técnica, como o aumento na expectativa de vida das pessoas, que passam a receber benefícios por mais tempo, e o restante é financeiro. O presidente da Globalprev – consultoria contratada pelo Postalis – afirma a um grupo de funcionários, em gravação obtida pela Folha de S. Paulo, que o déficit “decorre da significativa redução dos juros e da diversificação que ocorreu na Bolsa, concentrada especialmente em ações das empresas de Eike Batista”. A reportagem diz que os fundos de pensão estão sendo prejudicados pela queda dos juros, que tornou mais difícil cumprir as metas de rentabilidade e forçou a diversificação dos investimentos. O Postalis teve rentabilidade de 7% em 2012, abaixo da meta (12,6%) e abaixo dos 15% da média do setor.

De acordo com a matéria, o presidente do Postalis, Antônio Carlos Conquista, foi questionado por um participante sobre o porquê de "colocar todos os ovos em uma cesta só", referindo-se às empresas X, e respondeu que as ações do grupo EBX subiram muito em 2010 e 2011. "As escolhas do passado eram as melhores. Não tenho dúvidas de que vocês fariam o mesmo", afirmou. Segundo a Folha, Conquista disse acreditar na recuperação das empresas por causa da possibilidade de entrada de sócios estrangeiros ou até de uma ajuda do BNDES. "Seguramente vão subir de novo, porque está vindo uma série de ajustes. Está sendo vendida para grupo estrangeiro, entra BNDES no meio".

A reportagem conta que a reunião foi realizada no início do ano, com a presença de cerca de 100 pessoas. Os executivos do Postalis foram até as regionais dos Correios explicar os motivos do déficit.

Segundo a Folha, procurado durante dois dias, o Postalis não esclareceu o quanto dos R$ 698 milhões de rombo foram provocados pela queda dos juros e quanto foram causados pelos investimentos no grupo EBX. A informação não está disponível em seu balanço na internet. A Globalprev não retornou as ligações. O fundo informou que investe 7,98% do patrimônio em ações - o equivalente a R$ 613 milhões. E que as empresas X representam hoje 1,66% do total - ou R$ 127,5 milhões. A termelétrica MPX é a maior aposta (1,33%). Ou seja, 20,8% dos investimentos em ações estão nas empresas de Eike. Esse porcentual pode ter sido mais alto, dada a queda das empresas X na Bolsa.

O Postalis diz que começou a investir no grupo EBX em setembro de 2011, mas não revelou quanto aplicou, de acordo com a matéria. Desse período até agora, a ação da MPX, a melhor empresa do grupo, caiu 27%, para R$ 7,11.

Os funcionários estão preocupados com o deficit do Postalis. "O fundo é o nosso futuro e não concordamos que seja investido em sonhos, como as empresas do Eike Batista", o presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), Luiz Alberto Menezes Barreto, em entrevista à Folha de S. Paulo.

A Adcap enviou carta ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, presidente do conselho de administração dos Correios, pedindo que "atue com urgência para corrigir os rumos" do Postalis. Em nota, o Ministério disse que "tomou conhecimento do assunto por meio de auditoria realizada pelos Correios" e determinou "o encaminhamento de informações" para "orientação sobre possíveis providências".

Ainda segundo a reportagem, não há dados públicos sobre a performance dos investimentos do Postalis em 2013. O fundo informou que mantém ações do grupo EBX, porque "são investimentos de longo prazo".

*Com informações da Folha de São Paulo