19/03/2013
Atualizada: 19/03/2013 00:00:00
Atualizada às 13h36
Nancy Pimentel, à época diretora da escola onde Paulo Bandeira trabalhava, é a primeira testemunha a ser ouvida nesta terça-feira (19). Ao juiz John Silas, ela disse que o ex-prefeito de Satuba, Adalberon Moraes, resolveria o “problema” do professor, que denunciou desvios de recursos da educação. A ex-diretora afirmou que ainda tem "muito" medo de Adalberon.
O assistente de acusação, advogado Everaldo Patriota, perguntou se Nancy ainda tem medo de Adalberon. Nancy pensou um pouco e respondeu: "E muito". À época da investigação, a ex-diretora da escola havia dito à polícia que temia ser morta por Adalberon.
Nancy afirmou que, quando Adalberon estava na prisão, recebeu um telefonema avisando que o ex-prefeito seria solto e que ela teria que usar colete à prova de balas. Através do identificador de chamadas de seu telefone, a ex-diretora descobriu que a chamada foi feita de um orelhão, perto da cidade de Atalaia. Segundo ela, um primo seu foi até o local e soube, pelo dono de uma mercearia próxima ao orelhão, que um Gol branco havia estacionado no lugar por um tempo. No entanto, ela diz não ter conseguido descobrir quem fez a ligação.
Durante o depoimento, o acusado de autoria intelectual do crime, Adalberon Moraes, aparentou estar ansioso e preocupado. Antes do início da oitiva, o juiz John Silas leu depoimentos prestados em 2004 à polícia por Nancy, que chegou a ser indiciada pelo assassinato do professor, mas não foi pronunciada.
Ex-diretora conta sobre as férias forçadas que ex-prefeito deu a Paulo Bandeira
Paulo Bandeira teria feito gravações para comprovar os desvios de verbas. “Ele [Adalberon] disse que eu não precisava me preocupar com as gravações. Ele disse: ‘deixa que o problema do Paulo eu resolvo’”, afirmou Nancy. Segundo ela, depois dessa conversa o ex-prefeito mandou algumas pessoas à escola para procurar o professor até que o encontrassem. Neste dia, conta Nancy, o professor foi chamado à prefeitura.
No dia 20 de dezembro, segundo Nancy, Paulo Bandeira lhe comunicou que tinha recebido férias do prefeito. "O prefeito me deu férias. O que é que eu posso fazer? Ele disse que eu estou estressado e disse que eu fosse esfriar a cabeça", disse-lhe Paulo, segundo ela.
Nancy afirmou que, no retorno das suas férias forçadas, Bandeira ouviu de Adalberon que aquela era uma "segunda chance". "Olhe, professor, a partir de agora grave as coisas boas da escola porque Juruna gravava, mas morreu", teria dito o ex-prefeito ao professor, referindo-se ao deputado índio que gravava todas as promessas das autoridades para comprovar que elas não cumpriam a palavra. O índio morreu na miséria, décadas depois do fim do seu mandato.
À polícia, Nancy afirmou que Adalberon tripudiou da morte do professor
Nos trechos lidos pelo magistrado, a ex-diretora negou a autoria do crime e disse desconhecer os assassinos de Paulo Bandeira. Nancy disse à polícia que Aldaberon era uma pessoa violenta e também revelou indícios que apontavam o ex-prefeito como mandante da brutal execução.
A testemunha confirmou que tinha desentendimentos com o professor, mas disse que os dois tinham uma relação cordial e que “conversavam normalmente”. Nancy contou à polícia que o ex-chefe de gabinete de Adalberon, Marcelo dos Santos, solicitou os horários das aulas do professor a pedido do ex-prefeito.
Nancy também revelou à polícia um relato feito por Adalberon ao encontrar o corpo de Paulo Bandeira. “Fui olhar o corpo do professor e ele ficou deste ‘tamainho’”, teria dito o ex-prefeito, fazendo gestos com as mãos e com um sorriso sarcástico no rosto.
À polícia, a ex-diretora confirmou que o frasco de álcool encontrado no local do crime era igual ao dos lotes que havia na escola em que o professor trabalhava.
Defesa de réus tentou impedir depoimento de ex-diretora
A defesa dos réus chegou a impugnar o depoimento de Nancy, para que ela fosse ouvida como declarante, já que foi indiciada no processo, e não como testemunha. O juiz John Silas negou o pleito e disse que ela seria ouvida como testemunha, pois não havia nenhum impedimento legal.