01/06/2020
Atualizada: 01/06/2020 17:24:21


Quem assistiu ao vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020 não pôde deixar de ter se escandalizado pelos muitos impropérios e descalabros exibidos durante o conjunto de vociferações proferidas pelos atores daquele teatro de horrores.

Felizmente, o ministro Celso de Mello, decano do STF, autorizou a exibição do correspondente vídeo para que a sociedade brasileira pudesse ter alguma ideia, ainda que parcial, do nível daqueles que participaram do deprimente evento.

Destaco, entre muitos, apenas um deles, já gravíssimo, embora talvez não seja o mais grave entre os muitos ocorridos, o que de antemão já nos deixa estupefatos.

O ministro da economia declarou: "Já ‘botamos’ a granada no bolso do inimigo". Referia-se ele aos funcionários públicos federais mas, não necessariamente apenas a esses; referia-se também, direta ou indiretamente, aos funcionários públicos estaduais e municipais. O ministro da economia, em atitude de bravata e arrogância, alegrava-se por deixar os funcionários públicos sem reajustes até dezembro de 2021, tratando-os como inimigos.

Quando um ministro de Estado se refere aos funcionários do Estado em um tom que os trata como inimigos, então algo vai muito mal, muito mal mesmo. Criminaliza-se o funcionalismo público como se esse fosse composto de aproveitadores, que devido à justa estabilidade de que gozam se encontram aptos para permanecer em sensata quarentena em tempos de severa pandemia.

Os funcionários públicos foram criminalizados mais uma vez, embora esses mesmos, a despeito da quarentena, tenham envidado esforços para trabalhar com eficiência nessa nova realidade assim chamada de 'novo normal'.

Aliás, a infeliz pandemia nos mostrou a importância do Estado, que a despeito de sua crucial importância sofreu mecanismos propositais de desarticulação de suas políticas públicas pelo governo central de então, acrescida das dificuldades postas aos pequenos empresários geradores de empregos, pelos obstáculos criados pela falta de agilidade em socorrer emergencialmente os mais pobres, pela política hostil às recomendações da OMS e pela má vontade diante dos governadores que adotaram políticas protetoras de isolamento social mais condizentes com a responsável precaução com a saúde pública. Quanto ao socorro aos mais pobres em três parcelas, cumpre-nos dizer que somente se atingiu o modesto valor individual que foi liberado, devido ao protagonismo e à razoabilidade do congresso nacional, do contrário, o valor seria bem menor.

Em suma, agindo com diretrizes compatíveis com "os pobres que se explodam", "as pequenas empresas que se danem", "o meio ambiente que seja desregulamentado e que portanto agora vamos aproveitar a distração da Covid-19 para fazer a boiada passar", "que privatizemos tudo o que ainda for público deixando o Estado nu", "que prendam todos aqueles que se opuseram a nós" e outras "pérolas" do gênero, então não mais nos espantaríamos sequer se o resumo dessa ópera macabra seja simplesmente: "botar a granada no bolso do povo". O Brasil não merece tanta infâmia!

Fonte: Jenner Barretto Bastos Filho - Professor Titular do Instituto de Física (IF/Ufal)

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